14 de março de 2021
8 de março de 2021
AS VÖLVAS: feiticeiras, xamãs e sacerdotisas nórdicas
Os Völvas, também chamadas de seidhkonas, foram um grupo dos mais importantes da religiosidade nórdica antiga, mas, embora possuamos escassos registros históricos, o que temos expressa muito o poder e força dessas personagens.
Eram domínios das völvas a
prática do seidr, forma xamânica de prática de magia, que possuía diferentes
nuances, tais como, o transe e as jornadas espirituais a outros mundos e
dimensões, com ou sem o uso de entógenos, a metamorfose, a alteração da
realidade – incluindo do clima, tão duro e fundamental para a sobrevivência dos
povos do norte - , além de um dos aspectos mais famosos, as profecias. Freyja e
as Nornes são deusas que guardam uma relação muito forte com as völvas.
Freyja, deusa vanir, é
considerada por muitos historiadores – podemos citar Snorri, sobre quem se
atribui a respinsabilidade pelo Edda - , como a Grande Senhora do Seidr, sendo
a responsável por ensinar essa prática espiritual para os aesir. Aliás, foi sob
o disfarce de uma bruxa chamada Heidhr (A Brilhante), que Freyja ensinou o
seidr para Odin.
Sobre as Nornes, Mirellla Faur,
reflete: “É possível que essas mulheres na realidade fossem völvas ou valas
(videntes), que desempenhavam as mesmas funções atribuídas às Nornes, usando
seus dons proféticos, aceitos e honrados em questionamentos.”[1]
Outro registro interessante, que
conecta as völvas com as Nornes e também com Freyja, encontramos no livro
Deuses e Mitos do Norte da Europa, da H. R. Elliz Davidson, em que ela traz
registros históricos de que as völvas, de tempos em tempos, viajavam em
charretes pelas fazenda, para abençoar mulheres grávidas e crianças. Davidson
sugere que os registros de tais práticas demonstram a participação efetiva da
völva na sociedade nórdica como uma espécie de representante dessas deusas (e
também de Frigga), posto que eram chamadas para dar essas bênçãos e dons aos
que iam nascer. A autora defende a “ligação com o culto muito popular às Mães
emm tempos remotos, o apelo às divindades femininas cuja bênção sobre os
recém-nascidos assegurava felicidade na vida”.
Tanto sobre Freyja, como sobre as
Nornes e suas relações profundas com as völvas e o seidr, pouco temos de
concreto, já que os registros dessa tradição religiosa foram transmitidos ou
alterados por historiadores não pagãos. No entanto, como dissemos, o pouco que
temos, é suficiente para nos mostrar o quão grandiosas eram essas mulheres e
essas deusas.
Talvez o exemplo mais famoso da
profecia de uma völva seja encontrado no Völuspá. Aliás, o próprio nome do
poema tem relação com as völvas. Völuspá significa algo como “a profecia da
grande völva”. Para termos ideia da relevância disso, o poema conta a história
da criação do mundo até seu fim no Ragnarök – “O Crepúsculo dos Deuses” – , e conta
a história de uma völva que fala com Odin.
Bruxas, sacerdotisas, profetisas,
as völvas, geralmente são descritas como mulheres mais velhas e cujas vidas
eram devotas às práticas espirituais. Portanto, eram normalmente reclusas,
sendo solicitadas em situações de crise, momentos em que eram sempre
acompanhadas e amparadas por mulheres mais jovens (presumimos aprendizes).
Prática comum entre povos antigos
de diversos lugares no mundo, era o sepultamento com objetos importantes do
morto, quando vivo. Especialmente em âmbito religioso, sacerdotes e
sacerdotisas, em muitas religiosidades, eram enterrados com seus pertences sagrados.
E foi exatamente por essas práticas, que acabamos descobrindo alguns detalhes a
mais da vida dessas bruxas sacerdotisas. Relíquias sacerdotais foram
encontradas em restos mortais de duas mulheres idosas, no barco de Oseberg, barco
nórdico antigo, encontrado enterrado em uma zona rural da Noruega, hoje em
exposição no Museu dos Barcos Vikings, em Oslo.
Dentre esses objetos, encontraram
uma vara. E isso foi muito importante, pois a palavra “völva” significa algo
como “aquela que possui a vara”. A vara, a varinha de poder, o cetro, também
pode ser o cajado para a velha caminhar... e ou enfeitiçar, e ou viajar, já que
constataram a presença de plantas psicoativas nas varas.
Sabemos que os völvas usavam uma
variedade de rituais, como canções e conjurações e, durante a prática do seidr,
freqüentemente, caíam em transe para encontrar as respostas para as perguntas
que haviam sido feitas. Outra maneira de realizar as predições era por meio de
tigelas escuras e água, arte que provavelmente nasceu da leitura oracular em
lagos e outras concentrações de águas.
Segundo H.R. Ellis Davidson, “os
elementos essencias para essa prática de feitiçaria eram a armação de uma
plataforma ou assento elevado sobre o qual o praticante líder se sentava, a
entoação de encantamentos, e o estado de êxtase no qual o líder entrava. Esse
líder, geralmente era uma mulher, chamada völva. Às vezes, a völva era apoiada
por uma grande companhia, que atuava como coro e fornecia música. No fim da
cerimônia, a realizadora do seidr podia responder às perguntas que lhe eram
feitas pelos presentes, e entendemos que recebia as informações enquanto estava
em um estado de transe. “[2]
Fica claro, também no livro de
Davidson, que as viagens xamânicas realizadas pelas völvas envolviam percorrer
os mundos, através de respostas que essas mulheres traziam ao povo. Há relatos
que corroboram a ideia de que as vestimentas delas guardam relação com essas
viagens; as peles dos animais que usavam não eram apenas para proteger do frio,
mas indicavam em que animais elas se metamorfoseavam para caminhar entre os
mundos. Tanto isso é verdade, que na Saga de Erik, O Vermelho, encontramos
detalhes muito preciosos sobre as vestes de uma völva chamada Thorbjörg
Lítilvölva, nome que significaria algo como “pequena völva”. Na saga, Thorbjörg,
feiticeira islandesa, é solicitada para ir a fazendas predizer o futuro e
ajudar nos tempos difíceis de inverno. Existe uma linda imagem dessa völva no
Saga Museum, Museu da memória das sagas escandinavas, na Groenlândia.
O caráter metamorfo do seidr
praticado pelas völvas também pode ter relação com a descrição de que Freyja
viajava em uma charrete puxada por gatos. Nós, Elfo e eu, jamais vamos esquecer
uma experiência muito forte que tivemos com essa questão da metamorfose quando
comungamos pela primeira vez com uma planta de poder. Eu sempre tive uma
relação muito forte com gatos... e a primeira experiência que tive com uma
planta de poder foi algo que só consegui descrever como me transformar ou estar
dentro de um gato e eu conseguia ver cenas através dos olhos desse gato que, ao
mesmo tempo, era eu e no qual eu me encontrava. Obviamente, logo depois, me
lembrei da minha forte relação com Freyja, não só pelas minhas raízes
ancestrais biológicas, mas muito pela ancestralidade espiritual que sinto com
essa Deusa amada.
A völvas eram responsáveis pelas
bênçãos e cura, pelo alento ou o aviso sobre o futuro. E este pequeno texto é
uma forma singela de honrar essas incríveis mulheres, que a história não
honrou.
Beijos,
Lua Serena
Fontes:
Deuses e Mitos do Norte da
Europa, H. R. Ellis Davidson
Mitos Nórdicos, Mirella Faur
Ragnarök, Mirella Faur
7 de março de 2021
TITUBA: a bruxa que era muito maior que Salem
Tituba Indian (Tituba Índia) era
o nome pelo qual era conhecida, porque ela parece ter sido casada com um homem
escravizado junto dela, em Barbados; Seu nome era John Indian (João Índio). No
entanto, há registros de que Tituba negava ser casada com ele.
Como mulher escravizada por
Samuel Parris, Tituba cuidava da casa, das crianças, dos animais, dentre muitas
tarefas. Sabemos que, ela foi a primeira pessoa a ser interrogada por ocasião
das investigações sobre bruxaria, em 1692. Os registros mostram uma história de
mentiras, histeria e superstição. E a historiografia não mostra, escancara, a
face do preconceito e racismo. Vamos lá...
Pelos registros, sabemos que a
filha de Parris e outras amigas começaram a adoecer, sem uma razão aparente.
Bem, pelo menos não que o médico da família pudesse diagnosticar. Então, ele
alegou que, sem saber a causa do adoecimento, elas só podiam estar sob o
feitiço de alguma bruxa. Naquela altura, Salem (e não só Salem) já era um
enorme celeiro de superstições e a sanha de perseguição a bruxas era lugar
comum. Tanto é que, segundo registros históricos, foi uma vizinha dos Parris,
Mary Sibley, que teria ensinado Tituba a fazer um “bolo de bruxa”, uma espécie
de bolo feito com a urina das meninas que, quando dado a um cachorro, esse
revelaria quem era a bruxa. Mary Sibley não fora condenada a nada, exceto a um
afastamento temporário da congregação, já que era uma figura importante daquela
sociedade, além, obviamente, de ser uma pessoa branca.
Já Tituba...
Tituba foi presa e interrogada
não só por esse fato, mas também por ter sido acusada por Betty Parris e
Abigail Williams que, à altura, estavam apenas começando o enorme trabalho de
manipulação e mentiras que culminou na prisão e morte de inúmeras pessoas. As
três primeiras pessoas acusadas por bruxaria foram três mulheres, claro, que
não se encaixavam nos moldes puritanos da Vila de Salem. Uma delas, por óbvio,
foi Tituba, que era conhecida pelas histórias de sua terra longínqua e, segundo
registros, ela seria conhecida por utilizar plantas para cura e outros
objetivos, tendo, inclusive, muitas vezes, tratado as crianças da Vila,
inclusive as de Parris, com seus remédios naturais. É claro que isso foi usado
como prova de que Tituba era uma bruxa, na concepção diabólica criada à época.
Mas não foi só isso.
Existem dúvidas sobre a etnia de
Tituba, não sabendo se ela seria nativo americana, se seria africana, se seria
mestiça. E isso é um ponto importante em toda a história de Tituba. Ao analisar
uma história, é bom sempre atentarmos ao que não é dito, porque é exatamente
naquilo que não é dito que muita verdade pode ser encontrada.
É o que temos.
E, embora a gente deseje muito
mais, é suficiente para compreendermos a força, a inteligência de Tituba. Como
uma mulher escravizada não branca, portanto, sem recursos, sem proteção,
conseguiu sair viva nessa circunstância? Foi a magia de Tituba que a salvou?
Definitivamente sim. Tituba é definitivamente uma bruxa e devemos honrá-la em
nossos festivais dos mortos, como uma grande ancestral de todas as bruxas. Tituba
é uma bruxa por que não só de feitiços se vive. Ser bruxa é sobre ser
resistência, é sobre ser forte. E ser uma bruxa não branca é, além de tudo
isso, sobre ser sobrevivente.
As imagens que vocês estão vendo,
em desenho, são do século XIX, feitas por John W. Ehninger, que retratou Tituba
com traços que me lembram muito os nativos norte americanos. Ehninger talvez tenha
sido influenciado pela presença dos povos que viviam em Salem, à época de
Tituba. É sabido que os colonos estavam em guerra contra os indígenas da região,
especialmente as etnias Wampanoag, Nipmuck, Pocumtuck e Narragansett. Segundo
avaliação de Sherri V. Cummings, em seu artigo Indian, Mixed, or African: The
Metamorphosis of Tituba, Woman, Slave and Witch of Salem — A Historiographical
Examination, a falta de interesse em registrar a etnia de Tituba é clara e,
infelizmente, lugar comum na época, por isso, é possível que ela tenha sido uma
pessoa mestiça. Acrescento que ela pode ter sido uma mulher com traços muitos
familiares para nós, já que temos uma mistura muito comum de muitos povos.
Olhar para nós mesmos é olhar a história de oprimidos e opressores que se
mesclam em nosso DNA. Sim, somos a soma de muitas histórias de oprimidos e
opressores. Temos todos eles dentro de nós.
Uma dica muito bonita de leitura,
que traz essa reflexão, já que apresenta Tituba como tendo nascida do estupro
de um oficial inglês sofrido por sua mãe, africana, é o romance histórico “Eu,
Tituba, de Maryse Condé”. O livro é narrado pela própria protagonista, e mescla
elementos históricos e ficcionais, num recontar maravilhoso, que nos apresenta
Tituba em muitas épocas de sua vida, proporcionando um sentido de
representatividade muito importante. Recomendo.
Lua Serena
26 de fevereiro de 2021
IXCHEL: A Grande Matriarca Maia
Para alguns de vocês, talvez seja
uma Deusa pouco sabida, então, deixe-me apresentá-la:
Ixchel talvez tenha sido uma
Deusa das mais importantes da civilização maia, no geral. Digo no geral,
porque, ao contrário do que nos parece, quando lemos sobre eles, os maias eram
extremamente diversos. Algumas etnias eram, inclusive, inimigas entre si, tendo
guerreado continuamente por muitos anos. Porém, de modo geral, podemos dizer
que, do que ficou registrado para nós da História maia, e no que concerne a
Deusas, Ixchel é, sem sombra de dúvida, uma das mais relevantes daquele mundo
antigo.
No início deste ano de 2020, tive
a oportunidade viajar ao México, numa verdadeira imersão ao mundo maia.
Conhecemos 3 estados, Campeche, Quintana Roo e Yucatán. Foram momentos,
obviamente, maravilhosos, entre paisagens naturais incríveis, como os cenotes
indescritíveis e as praias de uma água azul inimaginável, entre monumentos
enormes, imponentes como os de Cichen Itzá, Tulum, Edzná, Uxmal, Cobá, até
grandes mistérios do Feminino que ali se descortinaram para nós. E, é claro,
Ixchel foi quem guiou nossos passos.
Fomos a dois lugares conhecidos
como sagrados dela, Cozumel – onde tirei a foto noturna que vocês podem ver
neste artigo – e Isla Mujeres – onde tirei a foto de dia.
Foram momentos de muita emoção e
que aguçaram muito a minha vontade de mergulhar nos mistérios maias femininos.
Isso foi desperto em mim não só por já amar Ixchel há alguns anos, mas por
estar ali... bem pertinho dos mistérios, recebendo pistas de um passado maia
pouco falado, pouco tratado. Um passado que é feminino e extremamente poderoso.
Em Cozumel, ilha localizada em
Quintana Roo, e que está historicamente ligada à Ixchel, por ter sido local
fortíssimo de culto, ficamos um pouco decepcionados ao ver que pouco foi preservado
dos mistérios de Ixchel. Ali conhecemos o sítio arqueológico de São Gervásio
(que, concordem comigo, deveria ter o nome da deusa, não é mesmo?!). Trata-se
de um local bem preparado para receber os turistas, mas que pouco, de fato,
traz a raiz da força dessa Deusa.
Curiosamente, onde senti muito
mais sua força e presença, foi em Isla Mujeres, onde as ruínas sofreram mais a
ação do tempo, mas que fica num ponto tão espetacular da ilha (punta sur), que
é possível se transportar para o passado maia, ao pisar ali.
Logo que você chega na punta sur,
você dá de cara com a imagem de Ixchel mãe, que acompanha este artigo. É bem
cuidada, poderosa, amorosa e forte. Então, você segue caminhando até a “ponta
da ponta da ponta” da ilha, onde há um estreito com muitos níveis que dá para a
imensidão do mar azul turquesa. Acima de tudo estão as ruínas do templo de
Ixchel. Ali, é possível caminhar por toda parte daquela espécie de penhasco,
mas há uma pequena plaquinha que nos diz para não subir nas ruínas, e que ali
era o templo da Deusa Ixchel, no passado e uma espécie de monastério para
mulheres devotas da deusa. É maravilhoso, poderoso e emocionante... Nessa mesma
ida a Isla Mujeres, tivemos a oportunidade de fazer um mergulho nas profundezas
daquelas águas. Foi sensacional!
De tanto olhar ruínas, seu olhar
se apura e você consegue ver detalhes incríveis. E muitos detalhes que vimos,
em diversos locais, foram imagens de rainhas, mulheres, figuras femininas que
ninguém sabia nos dizer muito a respeito. Dá para entender... poucos se
importavam em registrar grandes mulheres, Deusas, rainhas... então, há muita
imagem, e pouquíssima informação.
Conseguimos com uma moça, numa
livraria, um livro sobre la reina roja, sobre uma figura feminina muito
importante de Palenque, no Estado Chiapas. Ouvimos muitos falarem sobre Isla de
Jaina e alguma relação com o feminino poderoso maia... muito por alto.
Até que, voltando de um de uma de
nossas incursões pelos lugares sagrados, vimos uma espécie de lojinha bem raiz,
na beira da estrada. Paramos para procurar algo bacana para comprar.
Qual não foi a nossa surpresa
quando entramos!
A loja era de um artesão
fantástico, um homem que muito conhecia sobre a história maia e que fazia
réplicas de imagens encontradas em sítios arqueológicos. E, dentre muitas
lindezas, havia muitas (MUITAS) imagens femininas. Eu o questionei a respeito e
então ele abriu livros, caçou imagens impressas que guardava e nos ensinou
muitas coisas. Dentre muitos de seus ensinamentos, ele nos falou mais sobre a
Ilha de Jaina, e que a maioria das imagens de que eu perguntava foram
encontradas lá.
A Ilha de Jaina é uma ilha
mortuária artificial que os maias construíram (isso mesmo que você leu), é
proibido entrar ou passar perto dela. Precisa de autorização do governo
mexicano para ir até lá. Não precisa nem dizer que nós tentamos, não é mesmo?!
Pois é, mas não conseguimos.
O fato é que as imagens femininas
ali encontradas, e que o artesão replicava, mostram e comprovam a força do
feminino maia, obscurecido, invizibilizado pelos olhos que registraram o
passado desse povo. A maioria delas retrata Ixchel em diversas faces. As mais
comuns são de Ixchel mãe, como uma mulher madura, porém jovem. Essa é Ixchel
que fornece a fertilidade aos povos. Geralmente ela carrega peixes, que é o
alimento principal por toda a costa, claro. Seus seios à mostra são fartos,
férteis e ela tem uma beleza extremamente sensual. É retratada como uma mãe
muito sensual, a própria figura da fertilidade. Com ela às vezes se vê uma
figura de um coelho ou de um homem velho ou de um menino... todos são faces de
Itzamna, uma das divindades masculinas mais importantes para os maias, criador
do céu e da terra e do famoso calendário maia. Às vezes ela está como uma mãe zelosa
a cuidar dele, noutras a imagem claramente mostra uma união sexual, afetiva, um
casal sagrado. Algumas imagens também mostravam Ixchel velha, a terrível
senhora da morte e dos finais, que sempre vem, mas a maioria era de Ixchel como
a grande mãe daquela terra e daquele povo.
Tudo isso nos ensinou muito sobre
a força e a importância dessa Deusa. Vimos in loco e tivemos a certeza de que
há muito escondido, não descoberto, perdido, não visto... não revelado.
Quando lemos sobre Ixchel, sempre
vemos associação dela com os animais, especialmente o coelho (Itzamna seria,
então, a marca da lebre que vemos na lua associada a Ixchel?), a aranha e a
serpente. A serpente, inclusive, sempre está entrelaçada a ela e subindo ao
topo de sua cabeça. Sempre. O que nos diz que ela é a senhora de tudo que
transforma, senhora da vida e da morte – o que, curiosamente, vamos ver em
outras deusas das serpentes pelo mundo.
Ixchel é também chamada de
Senhora do arco-íris. O que não me deixa esquecer da própria relação da
serpente com o arco-íris, do próprio Kukulcan, a serpente emplumada. Fica aí a
pista do mistério...
Ela muitas vezes é chamada de “a
branca”, por sua relação com a lua em si e com o aspecto feminino da lua, que
rege os ciclos femininos e as marés tão importantes para a fertilidade do povo
maia. Ixchel é, acima de tudo, uma grande mãe provedora, nutridora, protetora
da vida, dos partos e aquela que, fiandeira aranha e tecelã que é, dá o fim
quando é chegada a hora de partir.
Tudo isso ficou muito claro para
mim, ao estar tão próxima da história, por estar no solo sagrado dessa grande
Senhora.
Convido vocês que não a conhecem,
a conhecê-la.
Para agradá-la, de a ela alguns
presentes.
Ela gosta de conchas, flautas,
apitos, caracóis e espirais. Mas acima disso, ela gosta de generosidade, de
ações justas. Ela gosta de coragem, ela gosta de atos sinceros. As melhores
oferendas a Ela são as que são compostas de bravura, de honra, de amor, de
respeito e de desapego.
Ela é uma Grande Mãe, com mãos terríveis
e benevolentes. Ela é a pergunta e a justa resposta, ela é a senhora do sempre
e a justa medida de todas as coisas.
Fale com ela, e eu tenho certeza
de que será um reencontro inesquecível.
Um abraço,
Lua Serena
20 de fevereiro de 2021
A BRUXA DE ENDOR
17 de fevereiro de 2021
INICIAÇÃO FORMAL E INICIAÇÃO SUBSTANCIAL
Essa semana fiz uma live no meu instagram (@luaserena77) sobre como se desenvolver no caminho solitário. Fiquei pensando e notei que ficou de forma um assunto que acho muito importante para todo mundo que busca se desenvolver na Arte.
Decidi, então, trazer um breve texto sobre o assunto.
Existe um PASSO ZERO para toda pessoa que decide estudar e praticar Bruxaria e esse passo passa por uma questão muito importante que devemos nos fazer.
A primeira coisa é se perguntar se você realmente precisa se iniciar. O que é ser um iniciado? E por que você deseja ser iniciado?
Bem, na minha percepção, a iniciação pode ser compreendida por duas perspectivas diferentes: um processo formal, que na Bruxaria Moderna ocorre como um treinamento formal que contém práticas e estudos gerais (para solitários) e gerais e específicos para aqueles que estão dentro de um grupo. E um processo substancial, que para mim é a realmente a iniciação, posto que se trata de um processo de transformação substancial, no qual e por meio do qual abrimos certas portas de mistérios. Mistérios esses que classifico como da vida, gerais. E outros que são próprios de cada caminho espiritual iniciático. Essa iniciação substancial não precisa necessariamente da formal para acontecer. Já a formal, sem a substancial, é vazia, meramente procedimental e de cunho intelectual. É como um conhecimento que se adquire em um curso.
A iniciação substancial traz para todo aquele que passa por ela uma carga de responsabilidade imensa, já que ela significa despertar, abrir os olhos (de todos os corpos) para os mistérios. E nem todo mistério é lindo e cheio de glamour, nem os internos e nem os externos. Ser um iniciado é ser um desperto e não ter como varrer a sujeira para baixo do tapete (embora a gente tente vez por outra). Mas é como morar sozinho. A sujeira vai ficar lá até você limpar e quanto mais demorar, mais difícil de limpar será. E o incômodo do acúmulo debaixo do tapete vai ser cada vez maior, cada vez que seus pés caminharem por aquela parte do tapete.
E, ao contrário de que possam pensar alguns, o processo iniciático substancial é um processo que não tem fim. E é um processo dentro do processo se manter desperto. Por isso alguns caminhos têm a renovação dos votos iniciáticos a cada determinado período. Para que nos lembremos de todos os juramentos explícitos e implícitos que uma iniciação possui.
Então, você gostaria de conhecer os mistérios da Arte, passando por um processo iniciático?
Pois saiba que isso significa mergulhar em seus próprios mistérios. Por isso, você vai ouvir que o período de dedicação é o período de trevas, de transformações, da noite negra da alma. Os deuses sacudirão a sua vida nesse período. Mas, lembre-se: a dedicação faz parte do processo de iniciação e se o processo dura a vida toda, então, a dedicação também. Então, você virá inúmeros momentos de profunda escuridão, em que não conseguirá escutar a voz dos deuses. Mas tudo isso é para que você consiga ouvir a sua própria voz. Os deuses jamais fazem qualquer coisa para, por capricho, nos ver no chão. Isso também é uma das mentiras que contaram e continuam contando sobre os nossos deuses.
Então, parece um processo muito ruim e cheio de dor... Por que passar por ele?
Claro que esse processo não é somente sobre dor e crise. É sobre despertar, é sobre dançar, é sobre um sentir-se profundamente conectado e parte de um imenso todo, de uma intensa força. É sobre sentir uma gratidão indescritível inclusive pelas crises e dores. É como despertar de fato para você é, mas sem que poder explicar detalhes por meio de processos de linguagem, ou pela razão. Por que, embora envolva a razão também, esse processo não é cognoscível pela razão. Ou melhor, até é, mas não é possível transmitir exatamente o que é por meio de palavras. Mas eu tenho certeza de que você que despertou, ao ler o que acabei de escrever, sabe exatamente do que estou falando.
Então, se iniciar, na perspectiva substancial, é algo maravilhoso e o sentimento que tenho, mais próximo, para que você entenda, é falar de uma gratidão profunda, junto a um sentido global, total de pertencimento, comunhão, unidade. É bom pra cacete!
Mas requer cuidado, requer cuidar.
A Naelyan da TCS tem um texto bem legal que fala sobre a iniciação e a perda da iniciação. Sugiro que vocês leiam lá no site da TCS, por que é bem real.
Bem, é isso... Você quer passar pelo processo iniciático substancial no caminho da Arte? Seja bem-vindo, mas não posso te dizer que fique à vontade. Só posso dizer: caminhe.
Espero ter ajudado um tiquinho.
Mas recomendo que você veja a live (está no meu IGTV). Nela, eu procurei abordar um ROTEIRO PARA SE DESENVOLVER SOLITARIAMENTE. Acho que vai ajudar.
Ah, e se puder, veja também uma série de 8 vídeos que fiz um tempos atrás (tbm está no IGTV). Nessa série, conversei um pouquinho sobre 8 lições que julgo importantes para praticantes de Bruxaria de forma solitária.
Os temas foram:
1. A IMPORTÂNCIA DO CONTATO COM OUTROS BRUXOS;
2. A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA;
3. APROFUNDAR PARA ALÉM DOS LIVROS;
4. ROTINA DIÁRIA, SEMANAL E MENSAL DE ESTUDOS E PRÁTICAS;
5. SUGESTÃO DE TEMAS FUNDAMENTAIS E ALGUNS EXERCÍCIOS:
6. PARÂMETROS, ORÁCULOS, CONTATOS E REGISTROS DOS ESTUDOS E PRÁTICAS;
7. O QUE FAZER COM ESSA TAL LIBERDADE DE BRUXA SOLITÁRIA;
8. O QUE OCORRE DEPOIS DA AUTOINICIAÇÃO?
Boas descobertas!
A imagem linda que você está vendo é de Jonathon Earl Bowser.
Bjs,
Lua Serena